18 janeiro 2007

Filho de peixe sabe nadar

"Ouvi dizer que o avançado do Barcelona, Eidur Gudjohnsen jogou uma vez ao lado do pai pela selecção da Islândia. Isto é verdade?"


Era uma vez um jogador de futebol islandês chamado Arnor Gudjohnsen. Quando tinha 25 anos, perguntaram-lhe qual o seu maior desejo, ao qual ele respondeu "jogar pela selecção ao lado de Eidur". E aí, o seu filho de oito anos, um jovem miúdo com cabelo loiro e penteado de uma forma que deu-lhe aquele 'look' de quem-acabou-de-se-levantar-da-cama, surgiu de entre as pernas do pai. "Foi sempre o meu sonho", continuou Gudjohnsen 'Senior'.


Um sonho que, tristemente, nunca se tornou realidade. Num jogo contra a Estónia em 1996, o mais próximo que estiveram de o realizar foi quando, após 62 minutos, Arnor foi substituído pelo estreante de 17 anos, Eidur. Por um momento, enquanto trocavam um beijo na face, os dois estiveram no relvado ao mesmo tempo. Foi feita história.


Mas numa cruel mudança de destino, antes de se disputar um jogo em Reykjavik em que pai e filho estavam preparados para aparecerem lado-a-lado no relvado, o jovem Eidur sofreu uma fractura do tornozelo num torneio sub-18. Esteve parado duas épocas, e entretanto o pai Arnor tomou a decisão de pendurar as botas. "Vai ser a minha pior pena no futebol que não tenhamos conseguido jogar juntos e sei que é também a do Eidur," disse Arnor.










* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".

16 janeiro 2007

Os animais no futebol

"É mesmo verdade que um clube romeno construiu um fosso com crocodilos lá dentro para impedir que os adeptos invadissem o relvado?", questiona Ben Evans.



Incrivelmente Ben, esta proposta surreal contra o hooliganismo foi mesmo planeada! Em 2003, o Steaua Nicolae Balcescu da 4ª divisão romena encontrava-se num aperto: os responsáveis das ligas ameaçavam o clube com uma expulsão da liga após vários incidentes relacionados com invasões de campo por parte dos adeptos e violentas lutas entre claques. Que poderia o clube fazer? Um rede à volta do relvado? Reforço de segurança? Não foi bem isso que se lembraram de fazer.


O presidente Alexandra Cringus falou então numa "solução inovadora" em que o consistia em construir um fosso à volta do relvado, carregado com bem crescidos crocodilos. "Isto não é uma piada", insistiu Cringus.

"Nós podemos obter crocodilos facilmente e alimentá-los com carne do matadouro local. O fosso está planeado para ser largo suficiente para que ninguém consiga saltá-lo. Qualquer pessoa que o tente fazer vai ter de se confrontar com os crocodilos. Acho que o problema da invasão de campo por parte dos adeptos vai ser resolvido de uma vez por todas."



Então e se algum jogador tiver o triste infortúnio de cair no dito fosso? Cringus planeava criar o fosso a uma distância considerável das quatro linhas para prevenir tal calamidade, mas não esquecendo os crocodilos; canos aquecidos iriam ser instalados na àgua de modo a mantê-la aquecida durante o tempo frio.

A última vez que ouvimos falar desta 'estória medieval', as autoridades locais estavam a considerar a proposta do clube.



Não sei até que ponto isto foi para a frente e não consegui descobrir mais informação mas o simples facto de alguém se ter lembrado desta hipótese para manter os adeptos fora do relvado... O futebol é lindo. :)









* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".

14 janeiro 2007

Nudismo no futebol (?!)

Com a crescente popularidade do futebol das últimas décadas e consequentes transmissões televisivas, um fenónemo conhecido por 'streaking' surgiu ao lado do desporto-rei. Quem não se lembra do sorriso rasgado na face de Scolari quando, num jogo de qualificação para o Mundial na Letónia, surge uma bela mulher literalmente despida de preconceitos a saltitar pelo relvado?






Não que seja um fenómeno exclusivo do futebol, pois também podemos vê-lo no ténis, râguebi, ou grandes eventos, como Jogos Olímpicos, final da Super Bowl, mas como desporto de eleição em todo o Mundo, é normal que os 'streakers' prefiram aparecer neste desporto.








"Já algum 'streaker' marcou um golo? E valeria se o marcassem?", pergunta Jimmy Lloyd.


Bem, o auto-proclamado 'O Streaker Nº1 do Mundo', Mark Roberts, de Liverpool, já marcou pelo menos dois golos sem ter nada vestido. Roberts, que também 'streakou' na Super Bowl e na Royal Ascott, marcou no jogo da Carling Cup entre o Liverpool e o Chelsea em 2000 e na final da Liga dos Campeões de 2002, entre o Real Madrid e o Bayer Leverkusen.



Em Anfield, Roberts recebu um passe de Gianfranco Zola antes de bater toda a defesa do Chelsea e rematar a um incrédulo Ed de Goey, após ter saltado a barreira que divide o relvado dos espectadores. O seu 'prémio de jogo': a ida a um tribunal e o pagamento de uma multa de 100 libras.

Na final da Liga dos Campeões, em Hampden Park, Escócia, 'rasgou' o seu fato de velcro antes de roubar a bola, passou por dois defesas e encontrou um Hans-Jorg Butt demasiado apático na baliza para defender o seu remate.


Roberts não é o único 'streaker' a pôr bola no fundo das redes. Em Dezembro de 1998, durante uma interrupção de jogo no Reading 1, Notts County 0, um fã correu o meio do campo, beijou o relvado e marcou um golo ao guarda-redes do County antes de 'fintar' um 'steward' e desaparecer de novo no meio da multidão nas bancadas.


Estes golos não contaram porque ocorreram quando o jogo estava parado (ambos os golos de Roberts aconteceram durante o intervalo), mas mesmo que tivessem acontecido durante o jogo, não valeriam de nada na mesma. Lei 10, O Golo, diz que um golo só pode ser marcado se nenhuma ilegalidade for cometida pela equipa que marcar o golo. Um 'streaker' seria considerado um jogador inelegível; uma equipa só ter 11 jogadores de campo, portanto não haveria nenhum golo. E mesmo sem considerar um equipamento de jogo impróprio! O árbitro também a possibilidade e responsabilidade de parar o jogo se "uma pessoa não-autorizada entrar no recinto de jogo".





Infelizmente não encontrei nenhum dos videos dos exemplos citados acima mas existe ainda um melhor: um remate para golo de Mark Roberts defendido por Vítor Baía! Na final da Taça UEFA de 2003, em Sevilha, Mark Roberts invade o relvado, despe-se a meio do campo, pega na bola e quando pensava que iria comemorar o golo, Vítor Baía faz uma desfeita e defende o remate...com o calcanhar!










* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".

13 janeiro 2007

O duplo penalty

Nem todos o sabem, mas um penalty - não um pontapé da marca de grande penalidade - pode ser marcado por dois ou mais jogadores. O jogador que primeiramente bate na bola, não é obrigado a rematar directamente à baliza, mas como essa é a forma mais fácil de se marcar um golo através de um penalty, raramente se vê alguém marcá-lo de outra forma.

Assim reza a lei do penalty:

"Regra 14 - O penalty

O penalty será cobrado de seu ponto pré-assinalado, com todos os jogadores - à excepção do que vai batê-lo - colocados fora da grande área e no mínimo a 9,15 m da bola. O guarda-redes adversário deverá permanecer sobre sua própria linha de golo, sem mover os pés, até que a bola seja rematada.

O cobrador da penalidade deverá bater directamente para a frente, e não poderá tocar novamente a bola antes que outro o faça. A bola será considerada em jogo assim que percorrer uma distância igual à sua circunferência, e o golo valerá, mesmo que o guarda-redes a toque antes de ultrapassar a linha de golo."








"Após ver o penalty (falhado) de Thierry Henry/Robert Pires no jogo Arsenal-Man. City, em Outubro de 2005, pergunto se o penalty de Johan Cruyff/Jesper Olsen foi o primeiro exemplo de um penalty 'marcado a dois'?", pergunta Lee McGleish.

Bom, apesar de 'Monsieur' Henry ter admitido que se inspirou no famoso penalty de 1982 do duo do Ajax, existem três exemplos anteriores do penalty batido 'ao de leve'.


Em 1964, no dia 21 de Novembro, o Plymouth Argyle venceu o Manchester City por 3-2, num jogo da 2ª divisão em Home Park. O golo vencedor veio do pé de Mike Trebilcock - após o árbitro ter assinalado um penalty a favor dos 'Pilgrims', dando a oportunidade de Trebilcock avançar e disparar para as redes.

Mas lendo as crónicas da época, parece que já antes o Plymouth tinha tentado - com sucesso - o penalty 'marcado a dois'. E com Newman envolvido mais uma vez. Em 1961, a 6 de Fevereiro, num 5-3 da 4ª eliminatória da Taça de Inglaterra, numa derrota da 2ª mão contra o Aston Villa. Desta vez, Wilf Carter tocou a bola para Newman aparecer e marcar.


Mas a podemos ainda voltar mais atrás no tempo e descobrir que a 5 de Junho de 1957, num jogo de qualificação para o Mundial entre a Bélgica e Islândia, já com o marcador a 6-1, é atribuído à Bélgica a marcação de um penalty, no minuto 44. Para marcá-lo apareceu Rik Coppens mas em vez de rematar à baliza de Björgvin Hermannsson, Coppens passa a bola com estilo para André Piters e este retribui o favor a Rik, dando-lhe a hipótese de marcar perante um espantado Hermannsson. O jogo acabou com uns 8-3 e Coppens veio a ser votado o 73º melhor jogador da Bélgica de todos os tempos.


Thierry Henry/Robert Pires penalty





Johan Cruyff/Jesper Olsen Penalty







* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".

11 janeiro 2007

Melhor golo de sempre?

Objectos voadores no futebol

"Com a polémica toda criada à volta de um hamburguer meio comido atirado ao Gary Neville e num jogo contra o Liverpool, fez-me lembrar da cabeça de leitão lançado a Luís Figo em Nou Camp e na vespa em chamas a rebolar nas bancadas de San Siro", lembra Brian Cowell. Mas qual foi o objecto mais estranho alguma vez lançado para dentro de um relvado?


Sempre que a conversa resvala para o esquisito, podem ter a certeza que o nome Paul Gascoigne vai ser mencionado. Por isso vamos deixar as formalidades de lado e deixar que Neil Jackson nos conte uma estória: "No seu regresso a St James Park, após ter sido vendido ao Tottenham, Gazza foi brindado com barras de chocolates Mars, vinda da bancada Gallowgate", lembra Neil. "Acho que numa entrevista, ele tinha dito que gostava de chocolates Mars. Durante o jogo, sem pensar duas vezes, apanhou uma das barras, abriu-a e deu uma dentada enorme."

Mas o mais famoso objecto voador é, com toda a certeza, a cabeça de leitão atirada para o relvado do Camp Nou, em Dezembro de 2002, na primeira visita de 'el pesetero' Luís Figo com a camisola do Real Madrid a Barcelona. Aliás, deve ter sido o jogador da história mais brindado com objectos voadores...



No entanto, o meu 'ovni' futebolístico favorito é, sem dúvida, a vespa em chamas que os adeptos do Inter roubaram fora do estádio a um adepto da Atalanta, depois infiltraram-na para dentro do estádio (após uma rigorosa inspecção por parte da segurança, claro), atearam-lhe fogo e finalmente foi lançada do segundo anel para uma zona onde, felizmente, se encontrava vazia. Ok, a mota não caiu para dentro de relvado, mas seria certamente essa a intenção. Surreal.









* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".

08 dezembro 2006

Rabona


Quantas vezes já vimos o Quaresma ou o nosso Ronaldo a fazer cruzamentos com o pé direito por trás da perna esquerda ou vice-versa? Ou melhor, quantas vezes já vimos o Quaresma ou o nosso Ronaldo a fazer uma rabona?

É de uma forma, mais ou menos, generalizada que a rabona foi inventada pelo avançado do Ascoli, Giovanni Roccotelli, 'il padre della rabona'. "Em todos os jogos, os adeptos gritavam para que eu a fizesse, eles já esperavam por isso," lembrou Rocotelli quando foi entrevistado à alguns anos. "Para mim, era uma coisa natural. Comecei a cruzar assim quando ainda era muito pequeno. Quando fui chamado à selecção nacional por [Enzo] Bearzot, lembro-me que cheguei a marcar dois golos assim em Campania. Pelo menos fiz uma coisa antes que qualquer outra pessoa... Agora chamam a esta jogada 'rabona' porque o Ronaldo (Real Madrid) a fez, mas o próprio Pelé disse numa entrevista que se lembrava que já um italiano a tinha feito antes dele: era eu."

Se cruzar com uma rabona é algo, mais ou menos, habitual nos relvados (e pelados!) desse mundo fora, casos dos já referidos Quaresma e C. Ronaldo ou do Ibrahimović, ver marcar um golo de rabona já é menos comum...

De acordo com algumas pessoas, os golos de Giafranco Zola pelo Chelsea contra o Ipswich, Kanu do Arsenal contra o Middlesbrough, Lee Sharpe do Manchester United contra o Barcelona ou até mesmo o célebre golo de Madjer na final de Viena de 87 pelo Porto, podiam ser considerados como rabonas, mas por muito bonitos e tecnicamente perfeitos que sejam, simplesmente não se podem qualificar como rabonas.

Daniel Huse, no entanto, apresenta-nos um golo que pode. "O jogador holandês Dave de Jong marcou um golo de rabona pelo VfL Osnabrück (3ª divisão) contra o SpVgg Greuther Fürth (2ª divisão) num eliminatória da Taça da Alemanha, em Agosto de 2005," escreveu Daniel Huse. E se não acreditam nas suas palavras, nada melhor que ver a prova no fantástico Youtube.




Temos ainda outro golo de rabona marcado por Andres Perez, desta vez em jogo corrido, apresentado por Felipe Patiño Arenas: "Ele é da Colômbia, e quando jogava pelo San Lorenzo contra o Independiente, durante um jogo amigável entre os dois clubes da Liga Argentina, marcou este golo."



Também digno de nota, é este tremendo quase-golo de Pablo Aimar que, se calha a entrar, seria o melhor rabona de sempre. E se ele realmente quisesse fazer aquilo.




É claro que, para quem se lembra, há um golo absolutamente genial marcado de rabona, e que aconteceu aqui, em Portugal: um dos seis (6!) golos que Mário Jardel brindou à visita do Juventude de Évora, numa eliminatória da Taça de Portugal, em Dezembro de 97. Pelo que li, por acaso num jornal recente, (ex-) Super Mário recebe uma bola bombeada dentro da grande área, descaíndo para o lado direito, domina de peito, cai redondinha para a relva e espanta-nos com um chapéu de rabona!
Já pesquisei a net inteira e não encontrei vídeos/imagens do golo... Se alguém as tiver, já sabe: diga qualquer coisa.


* Traduzido quase integralmente da secção "Knowledge", do jornal "The Guardian".